Contextualização
O
subprojeto PIBID- Alfabetização e letramento como ferramenta de interação
comunicativa e social, atua de forma parceira e dialógica entre a instituição
de ensino superior e uma escola pública, possibilitando que estudantes de
licenciatura tenham a experiência da imersão na escola sob supervisão de uma
professora habilitada e regente de sala de aula de alfabetização.
Essa
parceria oportuniza às estudantes de pedagogia, inexperientes nessa área, a
formação tanto prática (observando e auxiliando a professora regente, bem como
participando do dia a dia de um professor) quanto teórica, através de estudos e
reflexões sobre a arte de alfabetizar. Segundo PNA (2019, p. 19):
(...) Se alguém é
alfabetizado, significa que é capaz de decodificar e codificar qualquer palavra
em sua língua. Mas a aquisição dessa técnica não é um fim em si. O objetivo é
fazer que se torne capaz de ler e escrever palavras e textos com autonomia e
compreensão. Sem isso, o processo de alfabetização não frutifica, pois ler e escrever
palavras com precisão e fluência, dentro e fora de textos, é apenas o começo de
um caminho que deve ser consolidado por meio de atividades que estimulem a
leitura e a escrita de textos cada vez mais complexos, a fim de que a pessoa se
torne capaz de usar essas habilidades com independência e proficiência para
aprender, transmitir e até produzir novos conhecimentos.
Pensando
nisto, e utilizando como norte mediador de estudo preparatório, entendemos que a
autonomia da leitura, escrita, transmissão e produção de conhecimento na
infância podem ser facilitadas se integradas aos meios comunicativos abundantemente
utilizados na troca de diálogos no dia a dia. Entramos então, no estudo epistemológico
da alfabetização e letramento somados à educomunicação. Como a própria BNCC (2017,
p. 487) reforça:
(...) propostas de
trabalho que potencializem aos estudantes o acesso a saberes sobre o mundo
digital e a práticas da cultura digital devem também ser priorizadas, já que,
direta ou indiretamente, impactam seu dia a dia nos vários campos de atuação
social e despertam seu interesse e sua identificação com as TDIC. Sua
utilização na escola não só possibilita maior apropriação técnica e crítica
desses recursos, como também é determinante para uma aprendizagem significativa
e autônoma pelos estudantes.
Nosso
objetivo se deu em pensar atividades que possivelmente beneficiariam a professora
alfabetizadora e seus alunos, da série do 1° ano do fundamental, em suas
metodologias de ensino e aprendizado pleno. Realizaríamos, mediante análises
presenciais na escola parceira e anotando informações relevantes de cunho
contributivo, um planejamento oficial de aplicação de modo a recebermos futuramente
o retorno dos resultados.
Pandemia
Contudo,
ao iniciarmos o projeto, ainda nos encontrávamos reféns da situação pandêmica
que mudou drasticamente a vida e rotina de todos globalmente. As instituições
escolares, por meio de decretos governamentais, estavam fechadas e não havia
aula presencial desde praticamente o início do ano de 2020. As aulas, agora
remotas, haviam sidas aderidas às plataformas digitais, mas, este fenômeno não
se aplicava a toda e qualquer instituição. Visto que o projeto PIBID era de se
iniciar no segundo semestre, não havendo melhora e nem previsão de reabertura,
necessitamos nos adaptar, ironicamente, aos meios tecnológicos e superar esse
imprevisto insolente.
Os
métodos empregados partiram dos encontros virtuais com aplicativos próprios para
reuniões online e simultânea, possibilitando acesso e contato com a docente participante
do subprojeto. Desta forma, os encontros ocorreram remotamente, sendo possível adentrarmos
e observarmos, teoricamente, às aulas dos discentes através dos relatos feito
pela professora.
A
partir disso, nossas anotações e estudo educomunicativo conjunto, possibilitou
um olhar diferenciado, que possivelmente, não haveria sido o mesmo caso não
estivéssemos imersos neste episódio vigente.
Relato
de Experiência
Nas
primeiras reuniões, nos tornamos cientes da condição socioeconômica da escola parceira,
e a baixa frequência de acessos ao sistema utilizado para realização das
atividades diárias. O fator influenciador a tal situação, encontrava-se em
diversos pontos: familiar; financeiro; escolar e social.
É
importante frisar que as circunstâncias não eram favoráveis desde o início da
pandemia, a sala de aula acabou por sofrer um grande impacto nas atividades,
dificultando, portanto, grandemente no desenvolvimento de todos os demais alunos.
O autor Gómez (2002, p. 160), faz um comentário retratando perfeitamente o contexto
vivido, dizendo:
Nunca como agora o aparato
tecnológico, sempre presente ao longo da história, havia desafiado tanto os
diversos campos disciplinares e condicionado tão profundamente o acontecer
cotidiano das sociedades, os grupos e os indivíduos.
De
fato, nunca como antes, os aparelhos tecnológicos foram tão procurados,
exigidos e necessários para diversos afazeres cotidianos. Muitos migraram para
as telas e dentre eles alunos e professores. Visor, cadeira, e uma única voz sendo
transmitida pela tela, passou a fazer parte do novo normal. Foram mudanças
bruscas e extremamente rápidas, tão rápidas que nem todos puderam acompanhar.
A
desigualdade foi um fator atenuante que pode ser contemplado da maneira mais
cruel possível, tornando ainda mais drástica a diferença de ensino de
instituições públicas e particulares. O relato dos pais era de que os alunos não
possuíam internet em casa, e justamente por isso, era impossível acessarem sites
ou plataformas que exigiam mais dados de conexão, ocasionando o descumprimento
da realização das atividades propostas no dia.
O feito
é que, os alunos do 1° ano do nosso estudo, foram excepcionalmente afetados
negativamente. O momento propício para a iniciação da decodificação, princípio
alfabético, literacia emergente, numeracia e matemática básica foram
interrompidos e prejudicados sem precedentes.
Possivelmente,
esses mesmos alunos, não tinham internet e não realizavam ou realizavam
limitado acesso às mídias. Consequentemente, o conhecimento e exploração digital
sobre comunicação por meio de eletrônicos se faz inexistente.
Educomunicação
Quanto
aos objetivos da educomunicação, o autor (SOARES, 2004) explica: “O objetivo
principal é o crescimento da autoestima e da capacidade de expressão das pessoas,
como indivíduos e como grupo.”
Sobre
sua definição, temos o parecer dado de Thiago Reginaldo, para a revista
Comunicar é Educar (RODRIGUES, 2019, p. 10), doutorando em educação, que diz:
A
educomunicação pode ser descrita no conjunto de ações destinadas a criar e
desenvolver ecossistemas comunicativos. Tais ecossistemas são articulações dos
ambientes que favorecem o diálogo social e consideram as potencialidades dos
meios de comunicação e suas diversas tecnologias para a educação. A comunicação
é uma ação educativa e não existe educação sem a comunicação. Essa relação pode
ser compreendida assim como a utilização dos meios comunicacionais e das novas
tecnologias da informação e da comunicação (TICs), em conjunto com as práticas educativas,
a fim de integrar esses dois campos.
Quando
a educomunicação é entendida num todo, tudo passa a ser um processo de termo
fácil, uma vez que educação e comunicação interligam-se e juntas formam pilares
essenciais para o ensino. Sendo assim, sua aplicação toma forma contributiva à
vários outros campos dos saberes.
Na
alfabetização e letramento, a educomunicação vem com papel atenuante e
prazeroso no processo da decodificação e expressão. Em virtude da recém
descoberta das palavras e sons de pronúncias, os discentes encontram, através
de métodos educomunicativos, espaço para serem autores de seu próprio
desenvolvimento. Pela revista Comunicar é Educar (2019, p. 10), Claudemir Viana
aponta:
O
letramento assim como a educomunicação entendem a linguagem muito mais pelo seu
aspecto cultural, ou seja, ela é muito mais ampla do que o código em si. É um
conjunto de outros símbolos, outros sentidos e valores que no uso social esses
códigos trazem.
Para
tal feito, são necessários instrumentos tecnológicos, pois, em teoria e bases
documentais, como dito antes, os aparatos devem ser introduzidos no
planejamento e fazer pedagógico. Não somente isso, fazem parte da comunicação
cotidiana e necessária para a interação e introdução social. Citelli (2010, p.
69) diz que:
Nos últimos anos as
escolas vêm se equipando dos recursos audiovisuais. Itens como televisão, DVD,
rádio, aparelhos de CD estão presentes em praticamente toda a rede de ensino
pública, o que representa uma tentativa de acompanhar a celeridade das mudanças
ocorridas no âmbito das tecnologias audiovisuais.
Mas, é
importante lembrar que, este acompanhamento institucional das mudanças não
necessariamente está ligado com a aplicação e o uso didático executado como
complementação ou instrução de inserção às mídias, mostra o estudo feito pelo
autor (CITELLI, 2009).
Entretanto,
um dos métodos empregados que tem apresentado extrema eficiência é o rádio, por
meio dele é possível utilizar o recurso de comunicação mais versátil e mais
democrático em seu uso e função (SOARES, 2004).
Aplicação
No
entanto, apesar dos ocorridos inesperados, o estudo educomunicativo encaixou—se
de maneira ideal no presente momento, abrindo caminhos e possibilitando um
olhar diferenciado e propício das pibidianas quanto às situações vivenciadas
pelos estudantes da escola pública parceira. As práticas educomunicativas que estavam
sendo planejadas, teriam melhor adaptação ao cotidiano da comunidade local, situação
socioeconômica dos envolvidos e nível de fase alfabética, que é quase nulo.
Os
pontos positivos dessa experiência encontram-se nos estudos que foram de grande
valia para o preparo consciente do que de fato importa, construindo sentido
para a prática, e despertando o desejo de que a defasagem da comunicação
diminua, e o saber midiático/ alfabético se construa partindo de métodos, jogos
e atividades que sejam levados em consideração e abraçados pela instituição
para um bem maior.
As
salas de aula e o ambiente escolar nunca mais serão os mesmos. A era
tecnológica, apesar de presente a bastante tempo, nunca foi tão empregada
antes. Logo, as práticas educomunicativas serão tão necessárias quanto as
próprias letras e os números.
Conclusão
Deste
modo, concluímos as observações semestrais com um pensamento totalmente
diferente do inicial. Com esta experiência, particularmente única, é importante
frisar que as circunstâncias adversas nos possibilitaram presenciar, trazendo
consigo oportunidades de não apenas observar, mas vivenciar a necessidade da
prática educomunicativa no dia a dia.
A
equipe leva de bagagem relatos marcantes da realidade social, um fator
estritamente considerável para formação profissional e futuros métodos que
serão desenvolvidos para o currículo escolar. É bem possível que, quando
profissionais, tenhamos maior tato quando as práticas se correlacionarem com
mídias, comunicação e tecnologias, visto que, a formação nunca possui fim e a
atualização sempre será necessária, deste mesmo modo, teremos uma vantagem
acadêmica que somente foi possível com o projeto organizado pelo PIBID e financiado
pela CAPES.
Contudo, ainda há muito para ser feito pelas escolas, pelos alunos, pela alfabetização e comunicação midiática. A defasagem é consideravelmente alta, acreditamos que por meio de projetos seja possível reverter este quadro, mostrando que não parte apenas de um projeto com metodologias ativas, mas um projeto que ressalte a necessidade de informar os discentes sobre a importância e necessidade da educomunicação para formação social, para que o mesmo seja um ser pensante, crítico, reflexivo, possa se expressar e interpretar devidamente, com ortografias corretas, leitura fluente e capacidade oratória.
Cecília Pereira da Silva
Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid)
Estudante do 5o semestre de Pedagogia - Unasp-SP
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Alfabetização. PNA Política Nacional de Alfabetização/Secretaria de
Alfabetização. – Brasília: MEC, SEALF 2019.
CITELLI, Adílson Odair. Comunicação e educação:
implicações contemporâneas. Comunicação & Educação. São Paulo:
CCA-ECA-USP/ Paulinas, ano XV, n° 2, maio / ago. 2010.
GOMÉZ, Guillermo Orozco. Comunicação, Educação e Novas
Tecnologias: tríade do séc XXI. Comunicação & Educação. n. 23, p.
57-70, 2002. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/37017.
Acesso em: 22 dez. 2020.
RODRIGUES, Thiago. Comunicar é educar. Letra – o jornal
do alfabetizador, Belo Horizonte, n. 52, p. 10-13, jan./jun. 2019. Acesso em:
31 dez. 2020.
SOARES, Ismar de Oliveira. A educomunicação possível: uma
análise da proposta curricular do MEC para o ensino básico. Comunicação
& Educação, São Paulo, v. 21, n. jan/jun 2016, p. 13-25, 2016. Disponível
em: http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/110451. Acesso
em: 15 dez. 2020.
________________. Mas, afinal, o que é
educomunicação? São Paulo. Portal do Núcleo de Comunicação e Educação
da Universidade de São Paulo, USP. 2004. Disponível em: http://migre.me/nBgFU.
Acesso em: 14 jan. 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário