quinta-feira, 1 de abril de 2021

Relato de experiência - ano letivo 2020 (bolsista Cecília)

Contextualização

O subprojeto PIBID- Alfabetização e letramento como ferramenta de interação comunicativa e social, atua de forma parceira e dialógica entre a instituição de ensino superior e uma escola pública, possibilitando que estudantes de licenciatura tenham a experiência da imersão na escola sob supervisão de uma professora habilitada e regente de sala de aula de alfabetização.

Essa parceria oportuniza às estudantes de pedagogia, inexperientes nessa área, a formação tanto prática (observando e auxiliando a professora regente, bem como participando do dia a dia de um professor) quanto teórica, através de estudos e reflexões sobre a arte de alfabetizar. Segundo PNA (2019, p. 19):

 

(...) Se alguém é alfabetizado, significa que é capaz de decodificar e codificar qualquer palavra em sua língua. Mas a aquisição dessa técnica não é um fim em si. O objetivo é fazer que se torne capaz de ler e escrever palavras e textos com autonomia e compreensão. Sem isso, o processo de alfabetização não frutifica, pois ler e escrever palavras com precisão e fluência, dentro e fora de textos, é apenas o começo de um caminho que deve ser consolidado por meio de atividades que estimulem a leitura e a escrita de textos cada vez mais complexos, a fim de que a pessoa se torne capaz de usar essas habilidades com independência e proficiência para aprender, transmitir e até produzir novos conhecimentos.

 

Pensando nisto, e utilizando como norte mediador de estudo preparatório, entendemos que a autonomia da leitura, escrita, transmissão e produção de conhecimento na infância podem ser facilitadas se integradas aos meios comunicativos abundantemente utilizados na troca de diálogos no dia a dia. Entramos então, no estudo epistemológico da alfabetização e letramento somados à educomunicação. Como a própria BNCC (2017, p. 487) reforça:

 

(...) propostas de trabalho que potencializem aos estudantes o acesso a saberes sobre o mundo digital e a práticas da cultura digital devem também ser priorizadas, já que, direta ou indiretamente, impactam seu dia a dia nos vários campos de atuação social e despertam seu interesse e sua identificação com as TDIC. Sua utilização na escola não só possibilita maior apropriação técnica e crítica desses recursos, como também é determinante para uma aprendizagem significativa e autônoma pelos estudantes.

 

Nosso objetivo se deu em pensar atividades que possivelmente beneficiariam a professora alfabetizadora e seus alunos, da série do 1° ano do fundamental, em suas metodologias de ensino e aprendizado pleno. Realizaríamos, mediante análises presenciais na escola parceira e anotando informações relevantes de cunho contributivo, um planejamento oficial de aplicação de modo a recebermos futuramente o retorno dos resultados.

 

Pandemia

Contudo, ao iniciarmos o projeto, ainda nos encontrávamos reféns da situação pandêmica que mudou drasticamente a vida e rotina de todos globalmente. As instituições escolares, por meio de decretos governamentais, estavam fechadas e não havia aula presencial desde praticamente o início do ano de 2020. As aulas, agora remotas, haviam sidas aderidas às plataformas digitais, mas, este fenômeno não se aplicava a toda e qualquer instituição. Visto que o projeto PIBID era de se iniciar no segundo semestre, não havendo melhora e nem previsão de reabertura, necessitamos nos adaptar, ironicamente, aos meios tecnológicos e superar esse imprevisto insolente.

Os métodos empregados partiram dos encontros virtuais com aplicativos próprios para reuniões online e simultânea, possibilitando acesso e contato com a docente participante do subprojeto. Desta forma, os encontros ocorreram remotamente, sendo possível adentrarmos e observarmos, teoricamente, às aulas dos discentes através dos relatos feito pela professora.

A partir disso, nossas anotações e estudo educomunicativo conjunto, possibilitou um olhar diferenciado, que possivelmente, não haveria sido o mesmo caso não estivéssemos imersos neste episódio vigente.

 

Relato de Experiência

Nas primeiras reuniões, nos tornamos cientes da condição socioeconômica da escola parceira, e a baixa frequência de acessos ao sistema utilizado para realização das atividades diárias. O fator influenciador a tal situação, encontrava-se em diversos pontos: familiar; financeiro; escolar e social.

É importante frisar que as circunstâncias não eram favoráveis desde o início da pandemia, a sala de aula acabou por sofrer um grande impacto nas atividades, dificultando, portanto, grandemente no desenvolvimento de todos os demais alunos. O autor Gómez (2002, p. 160), faz um comentário retratando perfeitamente o contexto vivido, dizendo:

 

Nunca como agora o aparato tecnológico, sempre presente ao longo da história, havia desafiado tanto os diversos campos disciplinares e condicionado tão profundamente o acontecer cotidiano das sociedades, os grupos e os indivíduos.

 

De fato, nunca como antes, os aparelhos tecnológicos foram tão procurados, exigidos e necessários para diversos afazeres cotidianos. Muitos migraram para as telas e dentre eles alunos e professores. Visor, cadeira, e uma única voz sendo transmitida pela tela, passou a fazer parte do novo normal. Foram mudanças bruscas e extremamente rápidas, tão rápidas que nem todos puderam acompanhar.

A desigualdade foi um fator atenuante que pode ser contemplado da maneira mais cruel possível, tornando ainda mais drástica a diferença de ensino de instituições públicas e particulares. O relato dos pais era de que os alunos não possuíam internet em casa, e justamente por isso, era impossível acessarem sites ou plataformas que exigiam mais dados de conexão, ocasionando o descumprimento da realização das atividades propostas no dia.  

O feito é que, os alunos do 1° ano do nosso estudo, foram excepcionalmente afetados negativamente. O momento propício para a iniciação da decodificação, princípio alfabético, literacia emergente, numeracia e matemática básica foram interrompidos e prejudicados sem precedentes.

Possivelmente, esses mesmos alunos, não tinham internet e não realizavam ou realizavam limitado acesso às mídias. Consequentemente, o conhecimento e exploração digital sobre comunicação por meio de eletrônicos se faz inexistente.

Educomunicação

Quanto aos objetivos da educomunicação, o autor (SOARES, 2004) explica: “O objetivo principal é o crescimento da autoestima e da capacidade de expressão das pessoas, como indivíduos e como grupo.”

Sobre sua definição, temos o parecer dado de Thiago Reginaldo, para a revista Comunicar é Educar (RODRIGUES, 2019, p. 10), doutorando em educação, que diz:

 

A educomunicação pode ser descrita no conjunto de ações destinadas a criar e desenvolver ecossistemas comunicativos. Tais ecossistemas são articulações dos ambientes que favorecem o diálogo social e consideram as potencialidades dos meios de comunicação e suas diversas tecnologias para a educação. A comunicação é uma ação educativa e não existe educação sem a comunicação. Essa relação pode ser compreendida assim como a utilização dos meios comunicacionais e das novas tecnologias da informação e da comunicação (TICs), em conjunto com as práticas educativas, a fim de integrar esses dois campos.

 

 

Quando a educomunicação é entendida num todo, tudo passa a ser um processo de termo fácil, uma vez que educação e comunicação interligam-se e juntas formam pilares essenciais para o ensino. Sendo assim, sua aplicação toma forma contributiva à vários outros campos dos saberes.

Na alfabetização e letramento, a educomunicação vem com papel atenuante e prazeroso no processo da decodificação e expressão. Em virtude da recém descoberta das palavras e sons de pronúncias, os discentes encontram, através de métodos educomunicativos, espaço para serem autores de seu próprio desenvolvimento. Pela revista Comunicar é Educar (2019, p. 10), Claudemir Viana aponta:

 

O letramento assim como a educomunicação entendem a linguagem muito mais pelo seu aspecto cultural, ou seja, ela é muito mais ampla do que o código em si. É um conjunto de outros símbolos, outros sentidos e valores que no uso social esses códigos trazem.

 

 

Para tal feito, são necessários instrumentos tecnológicos, pois, em teoria e bases documentais, como dito antes, os aparatos devem ser introduzidos no planejamento e fazer pedagógico. Não somente isso, fazem parte da comunicação cotidiana e necessária para a interação e introdução social. Citelli (2010, p. 69) diz que:

 

Nos últimos anos as escolas vêm se equipando dos recursos audiovisuais. Itens como televisão, DVD, rádio, aparelhos de CD estão presentes em praticamente toda a rede de ensino pública, o que representa uma tentativa de acompanhar a celeridade das mudanças ocorridas no âmbito das tecnologias audiovisuais.

 

Mas, é importante lembrar que, este acompanhamento institucional das mudanças não necessariamente está ligado com a aplicação e o uso didático executado como complementação ou instrução de inserção às mídias, mostra o estudo feito pelo autor (CITELLI, 2009).

Entretanto, um dos métodos empregados que tem apresentado extrema eficiência é o rádio, por meio dele é possível utilizar o recurso de comunicação mais versátil e mais democrático em seu uso e função (SOARES, 2004).

 

Aplicação

No entanto, apesar dos ocorridos inesperados, o estudo educomunicativo encaixou—se de maneira ideal no presente momento, abrindo caminhos e possibilitando um olhar diferenciado e propício das pibidianas quanto às situações vivenciadas pelos estudantes da escola pública parceira. As práticas educomunicativas que estavam sendo planejadas, teriam melhor adaptação ao cotidiano da comunidade local, situação socioeconômica dos envolvidos e nível de fase alfabética, que é quase nulo.

Os pontos positivos dessa experiência encontram-se nos estudos que foram de grande valia para o preparo consciente do que de fato importa, construindo sentido para a prática, e despertando o desejo de que a defasagem da comunicação diminua, e o saber midiático/ alfabético se construa partindo de métodos, jogos e atividades que sejam levados em consideração e abraçados pela instituição para um bem maior.

As salas de aula e o ambiente escolar nunca mais serão os mesmos. A era tecnológica, apesar de presente a bastante tempo, nunca foi tão empregada antes. Logo, as práticas educomunicativas serão tão necessárias quanto as próprias letras e os números.

 

Conclusão

Deste modo, concluímos as observações semestrais com um pensamento totalmente diferente do inicial. Com esta experiência, particularmente única, é importante frisar que as circunstâncias adversas nos possibilitaram presenciar, trazendo consigo oportunidades de não apenas observar, mas vivenciar a necessidade da prática educomunicativa no dia a dia.

A equipe leva de bagagem relatos marcantes da realidade social, um fator estritamente considerável para formação profissional e futuros métodos que serão desenvolvidos para o currículo escolar. É bem possível que, quando profissionais, tenhamos maior tato quando as práticas se correlacionarem com mídias, comunicação e tecnologias, visto que, a formação nunca possui fim e a atualização sempre será necessária, deste mesmo modo, teremos uma vantagem acadêmica que somente foi possível com o projeto organizado pelo PIBID e financiado pela CAPES.

Contudo, ainda há muito para ser feito pelas escolas, pelos alunos, pela alfabetização e comunicação midiática. A defasagem é consideravelmente alta, acreditamos que por meio de projetos seja possível reverter este quadro, mostrando que não parte apenas de um projeto com metodologias ativas, mas um projeto que ressalte a necessidade de informar os discentes sobre a importância e necessidade da educomunicação para formação social, para que o mesmo seja um ser pensante, crítico, reflexivo, possa se expressar e interpretar devidamente, com ortografias corretas, leitura fluente e capacidade oratória. 

                                                                                          Cecília Pereira da Silva

Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid)

Estudante do 5o semestre de Pedagogia - Unasp-SP


REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA Política Nacional de Alfabetização/Secretaria de Alfabetização. – Brasília: MEC, SEALF 2019.

CITELLI, Adílson Odair. Comunicação e educação: implicações contemporâneas. Comunicação & Educação. São Paulo: CCA-ECA-USP/ Paulinas, ano XV, n° 2, maio / ago. 2010.

GOMÉZ, Guillermo Orozco. Comunicação, Educação e Novas Tecnologias: tríade do séc XXI. Comunicação & Educação. n. 23, p. 57-70, 2002. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/37017. Acesso em: 22 dez. 2020. 

RODRIGUES, Thiago. Comunicar é educar. Letra – o jornal do alfabetizador, Belo Horizonte, n. 52, p. 10-13, jan./jun. 2019. Acesso em: 31 dez. 2020.

SOARES, Ismar de Oliveira. A educomunicação possível: uma análise da proposta curricular do MEC para o ensino básico. Comunicação & Educação, São Paulo, v. 21, n. jan/jun 2016, p. 13-25, 2016. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/110451.  Acesso em: 15 dez. 2020. 

 ________________. Mas, afinal, o que é educomunicação? São Paulo. Portal do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo, USP. 2004. Disponível em: http://migre.me/nBgFU. Acesso em: 14 jan. 2021. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O cotidiano da volta às aulas 2022

       No dia 17 de fevereiro de 2022, a aula teve início com a contação de história do livro “Do outro lado da rua” de Cris Eich. O difere...