sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Resenha - Alfabetização e Letramento

 

SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2017. p. 12-61. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/127656/pdf/1?code=mNfxHsOmrcE6kViX6pyF3bw6k+Ziy+et5wg6fOeg5TAEKCXGIEWCshu8kG28z2kL/mLtSPe11X/NQwjbuSFesw==. Acesso em: 1 fev. 2021. 



        No século XX até a década de 80 não mais do que 50% das crianças brasileiras conseguiram avançar de seriação sendo consideradas alfabetizadas. Diante deste dado começou-se a pesquisar as causas desse fracasso podendo ser: o aluno, seu contexto cultural, o professor, o método, o material didático ou o código escrito.

A fim de ter uma melhor visão da alfabetização para estudos e pesquisas ela foi subi dividida em três categorias: o conceito de alfabetização, a natureza do processo de alfabetização e os condicionantes do processo de alfabetização.

No que se refere ao conceito de alfabetização é importante realizar a divisão do processo de aquisição da língua oral e escrita do processo de desenvolvimento da língua oral escrita. Nessa perspectiva foram criados os termos “alfabetização e letramento” a fim de deixar essa diferenciação clara.

De forma sucinta, o conceito de alfabetização deve basear-se na abordagem mecânica do ler/escrever, o enfoque da língua escrita como meio de expressão/compreensão e nos determinantes sociais.

No que tange a natureza do processo de alfabetização observa-se ser algo complexo e multifacetado, sendo algo negativo quando profissionais privilegiam uma ou outra habilidade, resultando numa visão fragmentaria do processo. Para ter uma teoria coerente da alfabetização, torna-se necessário uma articulação e integração dos estudos e pesquisas das diferentes facetas (psicológica, psicolinguística, sociolinguística e linguística).

Predomina-se no Brasil, dentre as diversas facetas, os estudos sobre a perspectiva psicológica que enfatiza as relações entre inteligência e alfabetização, atribuindo a responsabilidade de fracassos nesta etapa educacional as disfunções psiconeurológicas. A partir dos anos iniciais da década de 80 o foco voltou-se para abordagens cognitivas, embasadas principalmente em Piaget e nela o sucesso ou fracasso na alfabetização está relacionado ao estágio de compreensão da natureza simbólica da escrita em que se encontra a criança.

No que se refere aos estudos psicolinguísticos, são voltados para a análise de problemas e por isso seus estudos e pesquisas no Brasil são pouco numerosos. Além dos psicolinguísticos, a perspectiva sociolinguística também é pouco desenvolvida, pois nela a alfabetização é vista como relacionada ao uso sociais da língua, principalmente por ter alguns problemas: diferenças dialetais (diferença entre o que é falado e o que é escrito), as variações do dialeto a depender das classes sociais e da localização geográfica.

Concluindo o pensamento a respeito da natureza da educação temos o processo de natureza linguístico que afirma ser a alfabetização um processo que passa por duas transferências: sequência temporal da fala para sequência espaço-direcional da escrita, e de transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita. Desta forma, do ponto de vista linguístico a alfabetização significa um progressivo domínio de irregularidades e regularidades.

Os condicionantes do processo de alfabetização envolvem o fato de que crianças oriundas de classes socioeconomicamente privilegiadas adaptarem-se mais facilmente ao processo de alfabetização. Relacionado a isso tem-se o fato de que a língua oral espontânea muitas vezes é censurada, existindo então um preconceito linguístico e cultural que afeta o processo de alfabetização de crianças de classes populares. Sendo assim, é preciso acrescentar fatores sociais, econômicos, culturais e políticos para a natureza complexa do processo de alfabetização.

Diante de todos os tópicos supracitados ocorrem implicações educacionais que repercutem no problema dos métodos de alfabetização, o material didático, a definição dos pré-requisitos e da preparação para a alfabetização e a formação do professor.

Concernente a relação da alfabetização com o letramento e sua indissociabilidade foi trazido seu contexto histórico, ressaltando que o termo letramento surgiu no Brasil e em outros países do mundo na década de 80, mas que apesar do mesmo momento histórico possuíram contextos e causas diferentes. No Brasil, os conceitos de alfabetização e letramento se relacionam e quase se confundem quando são aproximados os dois termos. É preciso compreender que alfabetização e letramento possuem suas especificidades e não se fundem.

A perca da especifidade da alfabetização pode possuir várias causas: reorganização do tempo escolar com a implantação do sistema de ciclos, o princípio da progressão continuada e a mudança conceitual a respeito da aprendizagem da língua escrita. Apesar da mudança paradigmática na área da alfabetização ter contribuído para compreensão da trajetória da criança em direção a descoberta do sistema alfabético, acabou conduzindo alguns equívocos e falsas inferências.

Primeiramente foi subestimado a natureza do objeto de conhecimento privilegiando a faceta psicológica da alfabetização e deixando de lado a faceta linguística. Outro ponto discorrido foi a falsa inferência de que o paradigma conceitual psicogenético seria incompatível com a proposta de métodos de alfabetização. Por fim, acrescenta-se o falso pressuposto de que apenas através do convívio intenso com material escrito que circula nas práticas sociais a criança se alfabetiza.

A alfabetização e o letramento não devem ser diz associados pois o analfabeto ingressar no mundo da escrita de forma simultânea por estes dois processos. A alfabetização é a aquisição do sistema convencional de escrita e o letramento é o desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita. A alfabetização desenvolve-se no contexto e por meio de práticas sociais de leitura e escrita (através de atividades de letramento) e o letramento só se desenvolve no contexto e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema (dependência da alfabetização).

Para o letramento, as facetas existentes são: imersão das crianças na cultura escrita, participação em experiências variadas com a leitura escrita, conhecimento interação com diferentes tipos de gêneros de material escrito. Já para a alfabetização suas facetas são: consciência fonológicas e fonêmicas, identificação das relações fonema- grafema, habilidades de codificação e decodificação da língua escrita, conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da forma sonora da fala para forma gráfica da escrita.

Fazendo uma reflexão sobre a qualidade da educação brasileira e como avalia-la é destacado a necessidade de determinar as propriedades, os atributos, as condições que constituem a qualidade da alfabetização. Porém diante disso existem algumas dificuldades apresentadas, a saber: não ser possível afirmar quando está finalizado o processo de alfabetização, quando a pessoa está realmente alfabetizada e a diversidade dos conhecimentos e habilidades que constituem o alfabetismo e seus diferentes graus de complexidade. Por fim, todos os tópicos necessários para avaliar a qualidade de uma educação dependem do contexto histórico, social, econômico, político e cultural, não havendo uma resposta padrão para tal.

 

1.     Parecer crítico:

Muito conteúdo, bastante referencial histórico e contextualização dos fatos. Notas pertinentes acrescentadas em cada página a fim de tornar o conteúdo ainda atual. Senti falta de exemplos para auxiliar melhor na assimilação de tudo o que foi exposto no decorrer do livro.

 

2.     Contribuições que a leitura me trouxe:

Compreendi um pouco melhor qual a diferenciação entre alfabetização e letramento. Além disso, pude perceber que a luta pela melhoria na educação brasileira vai muito além dos pontos que são discutidos atualmente, sendo necessário ter um enfoque maior em tópicos não muito evidenciados mas que contribuem muito para a melhoria ou não da alfabetização no Brasil. Com base na leitura começo a perceber que os projetos que forem desenvolvidos na escola parceira não devem permear apenas a alfabetização, mas também o letramento, e por serem aspectos diferentes (apesar de indissociáveis) devemos investir melhor nosso tempo e forças para um projeto de qualidade.


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