terça-feira, 30 de março de 2021

Relato de experiência - ano letivo 2020 (bolsista Ana Guimarães)


                                                          Foto: arquivo pessoal da bolsista

As vivências

A escola em que atuamos se encontra em uma região periférica, onde a maioria dos alunos não dispõe de acesso à internet. As turmas do primeiro e segundo ano do ensino fundamental, alvo do projeto, por envolverem a etapa da alfabetização, são compostas por 30 alunos cada. A professora do primeiro ano conta com a ajuda de uma auxiliar em sala de aula, porém, para a professora do segundo ano este auxílio não é disponibilizado, apesar de haver entre eles um aluno autista de grau leve. Além dos espaços como a sala de aula, a escola conta com uma sala de informática, onde os alunos recebem aulas e têm contato com a tecnologia, porém, este espaço fica disponível apenas no horário regular das aulas do estudante, não podendo ser utilizado em turno oposto.

Devido ao contexto envolvendo a crise pandêmica, todas as vivências do ano de 2020 ocorreram de forma on-line, de forma que as bolsistas puderam se inteirar dos acontecimentos da escola através dos relatos da professora da escola parceira e da possibilidade de assistirem a reuniões. Todas as atividades tiveram que ser reestruturadas e adaptadas à modalidade on-line. Porém, tendo em vista à falta de acesso de muitos alunos e o fato de alguns não possuírem contato com a internet em seus lares, o governo enviou pelos correios os livros didáticos para que os alunos pudessem estudar e realizar atividades durante a pandemia.

Além disso, para auxiliar os pais e os estudantes nas atividades que deveriam ser realizadas nos livros, vídeos e materiais extras foram disponibilizados através da plataforma ClassRoom semanalmente. Para evitar dificuldades no acesso ou manuseio da plataforma foi postado um vídeo com o passo a passo para assistir as aulas, ter acesso aos materiais e como enviar arquivos que comprovem a realização das atividades pelos alunos.

Porém, ao serem analisados os acessos feitos à plataforma, bem como a porcentagem de alunos que realizaram as atividades, constatou-se que a participação foi muito baixa.

A professora contatou os responsáveis pelo aplicativo Whatsapp, e percebeu que o maior desafio estava sendo a falta de disponibilidade dos responsáveis para auxiliarem os alunos na realização das atividades.A partir desses relatos concernentes as aulas, atividades e o envolvimento dos pais, pude compreender o quanto o papel da família na formação do aluno faz-se importante, principalmente em ocasiões onde seu apoio e participação tornam-se fundamental, como é o caso do ensino a distância.

Turma do primeiro ano do ensino fundamental

Semanalmente, mais especificamente às terças-feiras pela manhã, são realizadas reuniões entre professores e membros do corpo diretivo dos anos iniciais do ensino fundamental. Em uma das reuniões realizadas constatou-se uma queda na realização das atividades por parte dos alunos. Esse tópico envolvendo o acesso dos alunos nas atividades postadas foi levantado por uma das professoras, porém as demais professoras também partilharam da mesma preocupação e afirmaram que compartilham da mesma realidade em suas turmas.

A professora do primeiro ano buscando compreender o motivo da queda no percentual de acessos pelos alunos continuou enviando recados e buscando comunicar-se com os alunos. Além disso, ao fazer o acompanhamento mais pessoal pode constatar através de alegações dos próprios responsáveis pelos alunos que o problema tem sido a falta de tempo para ler instruções ou recados e indisponibilidade para realizar as atividades em conjunto com o aluno.

Outro ponto também analisado foi o fato de que a maioria dos responsáveis respondem aos recados enviados pela escola parceira têm respondido apenas quando lhes é conveniente - rematrículas, cestas básicas, cartão alimentação – e poucas vezes por motivos pedagógicos.

Diante dessa realidade, torna-se de suma importância a reflexão sobre a literacia familiar e como faz-se necessária uma conscientização maior sobre a temática com os responsáveis pelos alunos, para que compreendam o importante papel que desempenham e como são fundamentais nesta etapa educacional. Corroborando com isso, temos a seguinte reflexão sobre a literacia familiar que diz:

 

Uma das práticas que têm maior impacto no futuro escolar da criança é a leitura partilhada de histórias, ou leitura em voz alta feita pelo adulto a criança; essa prática amplia o vocabulário, desenvolve a compreensão da linguagem oral, introduz padrões morfossintáticos, desperta a imaginação, incute o gosto pela leitura e estreita o vínculo familiar (CARPENTIERI, 2011 apud BRASIL, 2019).

 

Pensando no distanciamento que tem ocorrido entre professores e alunos, na tentativa de minimizar os danos causados, a professora da turma gravou um vídeo para os alunos e enviou no Whatsapp dos responsáveis a fim de fortalecer o vínculo afetado pela pandemia.

 

Avaliação

Em outra reunião realizada com a etapa dos anos iniciais do ensino fundamental foi sugerido pela coordenação uma avaliação para constar nas atas, sendo debatido durante todo o encontro qual seria a melhor forma de avaliar os alunos.

A princípio foi sugerido que os livros enviados pelos correios aos alunos fossem recolhidos, para que pudesse ser analisado de forma mais eficiente quais estudantes utilizaram ou não seus materiais didáticos. Desta forma, os professores seriam escalados para estarem presencialmente na escola recolhendo os livros entregues pelos pais e entregando cartões comemorativos a fim de desejar um bom restante de ano.

Diante da última probabilidade apresentada, vale destacar que os livros a serem recolhidos seriam apenas os do primeiro semestre, tendo em vista que após a recolha ainda haveriam atividades a serem feitas na plataforma do ClassRoom.

Outra probabilidade para a avaliação surgiu a partir do relato da professora do segundo ano, através deste modelo seriam realizadas ligações individuais para cada aluno passando as instruções, lendo toda a prova e aguardando o aluno concluí-la. Porém, diante dessa opção haveria o impasse que oito alunos não realizariam a prova por estarem impossibilitados de serem contatados, já que a escola só possui dados básicos e foto deles.

Por fim, a terceira alternativa seria a criação de um formulário pelo Google Forms que perguntará quantas vezes o aluno acessou a plataforma, quantas atividades realizou, quais teve mais dificuldade, entre outras perguntas. Anexado a ele ficará o relatório disponibilizado pela própria plataforma com frequência e permanência do aluno no site.

Diante de todas essas problemáticas e do prazo dado pela coordenadora para regularização da avaliação, que foi o dia 10 de dezembro de 2020, prevaleceu a sugestão de um formulário realizado na ferramenta Google Forms. O prazo para a avaliação estava próximo porque a prefeitura já promoveu os alunos para o próximo ano e era necessário avaliá-los para que tivessem certeza que os alunos tiveram atividades e materiais da professora durante essa pandemia.

Foi então elaborado pela coordenadora responsável pela turma do primeiro ano o formulário que foi entregue aos pais para avaliar o acesso dos alunos à plataforma, dificuldades, entre outros pontos que serviram como forma de avaliação, pois apesar de ter sido publicado modelos pela prefeitura de São Paulo para nortear as escolas públicas quanto ao processo avaliativo se limitavam a turmas a partir do terceiro ano do ensino fundamental.

Depois da reunião e da avaliação através do formulário, a professora do primeiro ano decidiu que as avaliações das disciplinas de português e matemática deveriam ser feitas em vídeo. As provas impressas foram disponibilizadas e os pais buscaram na escola. Dos 30 alunos apenas 18 conseguiram realizar a prova, que ocorreu por chamada de vídeo através do Whatsapp, de forma que a professora lia, passava as instruções e aguardava até que o aluno concluísse a prova. A internet de alguns alunos era ruim e às vezes a vídeo chamada ficava com qualidade baixa, então os alunos tinham que tirar foto da prova e enviar para que a professora pudesse observar as respostas, após o encerramento da ligação.

A partir destes modelos avaliativos e dos resultados que foram coletados, pude compreender que na etapa da alfabetização a forma de avaliar os alunos não se limita a números (notas). Na verdade, a avaliação nesta etapa é realizada a fim de diagnosticar problemas que tenham sido ocorridos no percurso, avaliar a eficácia escolar na alfabetização e contribuir para pesquisar acadêmicas (BRASIL, 2019).

Turma do segundo ano do ensino fundamental

A professora regente da turma em questão relatou o quão desafiador é a etapa da alfabetização, sendo muito importante o constante aperfeiçoamento. Em sala de aula faz uso método tradicional, método fônico, de músicas, textos, entre outros.

Um dos pontos mais evidentes em suas aulas é a rotina, inclusive por conta do aluno autista de grau leve que compõe a sala de aula. Em sua turma, a professora inicia seu dia contando os números dos alunos, cantando as letras do alfabeto (variando os estilos da música), atividades com vogais no início da aula e o cabeçalho, criando um ambiente alfabetizador.

Referente ao cabeçalho, de início, devido à dificuldade que os alunos possuem de copiar, a professora achou importante entregá-lo impresso, deixando poucas informações para serem preenchidas, como por exemplo as datas. Após alguns meses de adaptação é escrito todo o cabeçalho na lousa para as crianças copiarem, sendo muito importante nestes momentos ler aquilo que está sendo escrito.

Porém, devido a pandemia, as rotinas não puderam ter continuidade e da sua turma de 30 alunos, cinco deles não tiveram possibilidade de ter contato devido a desatualização dos dados cadastrais. Porém, com os outros alunos foi possível fazer videochamadas através do Whatsapp envolvendo 3 a 4 alunos na mesma ligação a fim de promover socialização e realizar uma atividade simples como a leitura de um livro.

 

Avaliação

A avaliação com a turma foi realizada de forma individual, ligando para cada aluno, passando as instruções, lendo toda a prova e aguardando o aluno concluí-la, mas ainda assim a professora não conseguiu atingir 100% dos alunos.

Considerações finais

A partir dessas vivências compreendi que o contato dos professores com os alunos é fundamental para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças em fase de alfabetização e faz-se ainda mais importante em situações pandêmicas. Também compreendi que apenas o esforço do professor não é suficiente, sendo vital o acompanhamento e envolvimento dos pais em todo o processo. Além disso, entendi que o PIBID oferta a nós, licenciandos em pedagogia, a possibilidade de construir um novo olhar em relação a educação pública, através de pesquisas, consegui compreender melhor a relevância da práxis, da reflexão sobre a ação. A partir das intervenções realizadas pude vivenciar experiências que aproximaram o meio acadêmico com a realidade docente.

Outro aprendizado que foi agregador à minha formação, diz respeito ao estudo sobre Educomunicação, em que pude perceber o quanto ainda faz-se necessário sua explanação e aplicação de forma integral. Antes de ingressar no PIBID não tinha ciência do termo e nem do seu significado, agora compreendo o quanto o ensino ainda possui raízes tradicionalistas e como é preciso investir em sua melhoria.


Ana Guimarães

Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid)

Estudante do 5o semestre de Pedagogia - Unasp-SP


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