SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento.
7. ed. São Paulo: Contexto, 2017. p. 12-61. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/127656/pdf/1?code=mNfxHsOmrcE6kViX6pyF3bw6k+Ziy+et5wg6fOeg5TAEKCXGIEWCshu8kG28z2kL/mLtSPe11X/NQwjbuSFesw==. Acesso em: 1 fev. 2021.
No século XX até a década de 80 não mais do que 50%
das crianças brasileiras conseguiram avançar de seriação sendo consideradas
alfabetizadas. Diante deste dado começou-se a pesquisar as causas desse fracasso
podendo ser: o aluno, seu contexto cultural, o professor, o método, o material
didático ou o código escrito.
A fim de ter uma melhor visão da alfabetização para
estudos e pesquisas ela foi subi dividida em três categorias: o conceito de
alfabetização, a natureza do processo de alfabetização e os condicionantes do
processo de alfabetização.
No que se refere ao conceito de alfabetização é
importante realizar a divisão do processo de aquisição da língua oral e escrita
do processo de desenvolvimento da língua oral escrita. Nessa perspectiva foram
criados os termos “alfabetização e letramento” a fim de deixar essa
diferenciação clara.
De forma sucinta, o conceito de alfabetização deve
basear-se na abordagem mecânica do ler/escrever, o enfoque da língua escrita
como meio de expressão/compreensão e nos determinantes sociais.
No que tange a natureza do processo de
alfabetização observa-se ser algo complexo e multifacetado, sendo algo negativo
quando profissionais privilegiam uma ou outra habilidade, resultando numa visão
fragmentaria do processo. Para ter uma teoria coerente da alfabetização,
torna-se necessário uma articulação e integração dos estudos e pesquisas das
diferentes facetas (psicológica, psicolinguística, sociolinguística e linguística).
Predomina-se no Brasil, dentre as diversas facetas,
os estudos sobre a perspectiva psicológica que enfatiza as relações entre
inteligência e alfabetização, atribuindo a responsabilidade de fracassos nesta
etapa educacional as disfunções psiconeurológicas. A partir dos anos iniciais
da década de 80 o foco voltou-se para abordagens cognitivas, embasadas
principalmente em Piaget e nela o sucesso ou fracasso na alfabetização está
relacionado ao estágio de compreensão da natureza simbólica da escrita em que
se encontra a criança.
No que se refere aos estudos psicolinguísticos, são
voltados para a análise de problemas e por isso seus estudos e pesquisas no
Brasil são pouco numerosos. Além dos psicolinguísticos, a perspectiva
sociolinguística também é pouco desenvolvida, pois nela a alfabetização é vista
como relacionada ao uso sociais da língua, principalmente por ter alguns
problemas: diferenças dialetais (diferença entre o que é falado e o que é
escrito), as variações do dialeto a depender das classes sociais e da
localização geográfica.
Concluindo o pensamento a respeito da natureza da
educação temos o processo de natureza linguístico que afirma ser a
alfabetização um processo que passa por duas transferências: sequência temporal
da fala para sequência espaço-direcional da escrita, e de transferência da
forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita. Desta forma, do ponto de
vista linguístico a alfabetização significa um progressivo domínio de
irregularidades e regularidades.
Os condicionantes do processo de alfabetização
envolvem o fato de que crianças oriundas de classes socioeconomicamente
privilegiadas adaptarem-se mais facilmente ao processo de alfabetização.
Relacionado a isso tem-se o fato de que a língua oral espontânea muitas vezes é
censurada, existindo então um preconceito linguístico e cultural que afeta o
processo de alfabetização de crianças de classes populares. Sendo assim, é
preciso acrescentar fatores sociais, econômicos, culturais e políticos para a
natureza complexa do processo de alfabetização.
Diante de todos os tópicos supracitados ocorrem
implicações educacionais que repercutem no problema dos métodos de
alfabetização, o material didático, a definição dos pré-requisitos e da
preparação para a alfabetização e a formação do professor.
Concernente a relação da alfabetização com o
letramento e sua indissociabilidade foi trazido seu contexto histórico,
ressaltando que o termo letramento surgiu no Brasil e em outros países do mundo
na década de 80, mas que apesar do mesmo momento histórico possuíram contextos
e causas diferentes. No Brasil, os conceitos de alfabetização e letramento se relacionam
e quase se confundem quando são aproximados os dois termos. É preciso
compreender que alfabetização e letramento possuem suas especificidades e não
se fundem.
A perca da especifidade da alfabetização pode
possuir várias causas: reorganização do tempo escolar com a implantação do
sistema de ciclos, o princípio da progressão continuada e a mudança conceitual
a respeito da aprendizagem da língua escrita. Apesar da mudança paradigmática
na área da alfabetização ter contribuído para compreensão da trajetória da
criança em direção a descoberta do sistema alfabético, acabou conduzindo alguns
equívocos e falsas inferências.
Primeiramente foi subestimado a natureza do objeto
de conhecimento privilegiando a faceta psicológica da alfabetização e deixando
de lado a faceta linguística. Outro ponto discorrido foi a falsa inferência de
que o paradigma conceitual psicogenético seria incompatível com a proposta de
métodos de alfabetização. Por fim, acrescenta-se o falso pressuposto de que
apenas através do convívio intenso com material escrito que circula nas
práticas sociais a criança se alfabetiza.
A alfabetização e o letramento não devem ser diz
associados pois o analfabeto ingressar no mundo da escrita de forma simultânea
por estes dois processos. A alfabetização é a aquisição do sistema convencional
de escrita e o letramento é o desenvolvimento de habilidades de uso desse
sistema em atividades de leitura escrita nas práticas sociais que envolvem a
língua escrita. A alfabetização desenvolve-se no contexto e por meio de
práticas sociais de leitura e escrita (através de atividades de letramento) e o
letramento só se desenvolve no contexto e por meio da aprendizagem das relações
fonema-grafema (dependência da alfabetização).
Para o letramento, as facetas existentes são:
imersão das crianças na cultura escrita, participação em experiências variadas
com a leitura escrita, conhecimento interação com diferentes tipos de gêneros
de material escrito. Já para a alfabetização suas facetas são: consciência fonológicas
e fonêmicas, identificação das relações fonema- grafema, habilidades de
codificação e decodificação da língua escrita, conhecimento e reconhecimento
dos processos de tradução da forma sonora da fala para forma gráfica da
escrita.
Fazendo uma reflexão sobre a qualidade da educação
brasileira e como avalia-la é destacado a necessidade de determinar as
propriedades, os atributos, as condições que constituem a qualidade da
alfabetização. Porém diante disso existem algumas dificuldades apresentadas, a
saber: não ser possível afirmar quando está finalizado o processo de
alfabetização, quando a pessoa está realmente alfabetizada e a diversidade dos
conhecimentos e habilidades que constituem o alfabetismo e seus diferentes
graus de complexidade. Por fim, todos os tópicos necessários para avaliar a
qualidade de uma educação dependem do contexto histórico, social, econômico,
político e cultural, não havendo uma resposta padrão para tal.
1. Parecer crítico:
Muito conteúdo, bastante
referencial histórico e contextualização dos fatos. Notas pertinentes
acrescentadas em cada página a fim de tornar o conteúdo ainda atual. Senti
falta de exemplos para auxiliar melhor na assimilação de tudo o que foi exposto
no decorrer do livro.
2. Contribuições que a leitura me
trouxe:
Compreendi um pouco melhor qual a
diferenciação entre alfabetização e letramento. Além disso, pude perceber que a
luta pela melhoria na educação brasileira vai muito além dos pontos que são discutidos
atualmente, sendo necessário ter um enfoque maior em tópicos não muito
evidenciados mas que contribuem muito para a melhoria ou não da alfabetização
no Brasil. Com base na leitura começo a perceber que os projetos que forem
desenvolvidos na escola parceira não devem permear apenas a alfabetização, mas
também o letramento, e por serem aspectos diferentes (apesar de indissociáveis)
devemos investir melhor nosso tempo e forças para um projeto de qualidade.